terça-feira, 21 de abril de 2009

COLUMBINE - DEZ ANOS

Longe da violência pulverizada nas escolas norte americanas, Columbine não registrava ocorrências policiais além de multas por estacionamento proibido e não possuía portas detectoras de metais em sua entrada. Cerca de 82% de seus alunos eram aprovados nas Universidades. Era conservadora e privilegiava os atletas. Nas formaturas quase sempre não havia bebidas alcoólicas.

Lá estudavam Eric Harris, 18 anos e Dylan Klebold, 17anos. Jovens de boas famílias, ótimas notas e popularidade zero. Enredo comum em qualquer filme de sessão da tarde. Só que a vingança foi um pouco além de conseguir sair com a garota mais bonita no baile de formatura.

Ridicularizados pelos atletas, extravasavam em sites da internet seu ódio, formando a Máfia da Capa Preta, colecionando suásticas e menções neonazistas. Em 20 de abril de 1999, entraram no colégio por volta da 11h portando 1 pistola semi-automática, 1 rifle 9mm, 2 caçadeiras sob as capas pretas e cerca de 30 bombas caseiras em mochilas.

Em um exemplar do livro de formaturas, Harris decidiu, através de palavras escritas nas fotos, quem morreria e quem seria poupado, com foco voltado aos atletas e minorias.

Assassinaram 12 colegas, 1 professor e suicidaram-se, deixando mais 23 feridos. Em nota encontrada perto dos corpos, diziam: Não culpem mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir.

Ambos possuíam antecedentes criminais por roubo de equipamentos eletrônicos e arrombamento de carros. Infrações pagas com 45 horas de serviços comunitários recém cumpridos.

Recomendo os filmes “Tiros de Columbine” (2002) – Michael Moore e Elefante (2003) – Gus Van Sant. O 1º ganhou o Oscar de Melhor Documentário de 2003. Elefante mostra as possíveis motivações dos estudantes para cometerem os crimes no Instituto, através dos personagens Alex e Eric.

Hoje, dez anos depois, ataques desse tipo continuam acontecendo. O último, no início de abril, numa instituição de atendimento ao imigrante, na cidade de Binghamton, Estado de Nova York, vitimando fatalmente um professor brasileiro. Até agora em 2009, foram 4 ataques. Em 2008, foram 12 em todo o mundo.

É absurdo, mas essas tragédias estão se resumindo a estatísticas. Lamenta-se, mas não se choca mais. Duas frases comentam o episódio e olha-se no relógio pra ver quanto tempo falta pra começar a novela.

Em que pese a dificuldades sociais latentes que as pessoas vêm apresentando em aceitar / reagir à rejeição que culminam em tragédias como essa, o descontrole sobre as armas nos EUA só aumentou nos últimos anos.

Hoje no Brasil, um cidadão comum para adquirir uma arma de fogo, precisa fornecer dados pessoais e documentos a Policia Federal; comprovar a necessidade profissional ou ameaça a integridade física; fornecer certidões de antecedentes criminais das Justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral; e apresentar análises assinadas por profissionais credenciados, psicológicas e técnicas. Ok, não estamos no país das maravilhas, mas a coisa estaria muito pior se qualquer cidadão maior de idade pudesse comprar armas na esquina.

Atualmente, é isso que acontece nos EUA. Qualquer americano maior de idade pode adquirir armas de fogo, desde que não esteja respondendo por ação de violência e nunca tenha sido internado em instituição psiquiátrica. Isso nos vendedores autorizados.

Em feiras de armas e negociações particulares, simplesmente não há exigência. Assim, nem o Depto de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, possui o número exato de armas em circulação no país.

De um lado, o lobby “pro armas”, liderado pela NRA (Associação Nacional do Rifle), defende que o problema da violência com armas nos EUA deve ser resolvido com mais armas e menos (ainda) regulação. Teoricamente, segundo eles, se o diretor ou vigilante de Columbine estivessem portando armas de fogo, teriam inibido os criminosos ou ainda, atirado antes que o ataque começasse.

Do outro lado, as organizações de prevenção a violência com armas, defendem que todos os ataques tem em comum a arma de fogo e atribuem a facilidade em adquiri-la, o estopim para os ataques. Defendem as chamadas “medidas de senso comum”. Hoje, qualquer americano pode comprar fuzis AK47, 50 revolveres de uma vez e estocar armas e munição. Ainda que seja uma questão de auto defesa, quem precisa de tanto armamento? Bruce Willis? Uma vitória recente foi a aprovação do repasse de mais verba aos Estados que alimentarem o sistema nacional de antecedentes. É pouco.

Os valores se inverteram a tal ponto que ninguém questiona o governo pela responsabilidade em dar segurança à população ou por desenvolver programas efetivos de acompanhamento psicológico nas escolas. E nem estamos falando dos bons e velhos países subdesenvolvidos!

Não há medida 100% segura para eliminar um episódio assim. Qualquer cidadão, em um rompante, pode potencialmente gerar agressões dessa magnitude, infelizmente. A questão é devolver o que é “tragédia” ao patamar de TRAGÉDIA. EXCEÇÃO. Um fato que aconteceu, em média, todos os meses de 2008, e mantêm o ritmo em 2009, não é mais tragédia. É cotidiano.

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