quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A GUERRA PASSIONAL

90 ANOS DE CONFLITO
PALESTINA - A Terra Prometida
e os riscos de uma canetada mal dada.
A Palestina, estreito trecho de favorável passagem entre a Ásia e África, foi palco no decorrer dos séculos de incontáveis conquistas pelos mais variados exércitos por constituir um corredor natural.
A partir da 1ª Grande Guerra, o território passou a sofrer controle britânico, dando fim ao Império Otomano. Nesse momento, iniciou-se a imigração judaica para a região, estimulada pelo movimento sionista nascido na Europa no século IXX, em reação à perseguição aos judeus no continente. Em princípio, os sionistas chegaram a cogitar outras terras para a criação de uma nação judaica como Argentina e Chipre. Ocorre que a Palestina era a terra prometida por Deus a Abraao, e os valores históricos e religiosos foram determinantes.
Entre 1890 e 1922, a população judaica na Palestina dobra, de 40 mil para cerca de 85 mil. Em 1947 os judeus já são 600 mil, para 1,3 milhão de árabes. Os judeus começam a formar grupos paramilitares.
No mesmo ano, a ONU aprova a partilha da Palestina em 2 Estados, sob o forte impacto do Holocausto de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista. Judeus ficariam com 56% do território, e um Estado árabe seria formado no restante. Iniciam-se os confrontos. Árabes alegam que a partilha não obedeceu obedeceu à proporção entre as populações. Israel declara independência em 1948, os grupos paramilitares se fundem em exército e o novo país é invadido por tropas árabes. Ao final do conflito, com vitória de Israel, o novo país passa a controlar 77% do território. O conflito chamado de Nakba pelos palestinos, mais de 600 mil árabes (muçulmanos e cristãos) foram expulsos ou fugiram de Israel, perdendo casas e propriedades. Apenas 160 mil permaneceram.

1949 - Expansão das fronteiras
Em 1982, seguindo um acordo entre Israel e o Egito alcançado três anos antes, os israelenses se retiram do Sinai.

1987 - Intifada
Entre 1987 e 1993, os palestinos empreenderam uma revolta popular contra Israel que ficou conhecida como Intifada. Marcada pelo uso de armas simples, como paus e pedras lançadas pelos palestinos contra os israelenses, a Intifada incluiu também uma série de atentados graves contra judeus.

1993 - Acordos de Oslo
Em 1993, na Noruega, Israel se compromete a devolver os territórios ocupados em troca de um acordo de paz definitivo. Israel deixa boa parte dos centros urbanos palestinos em Gaza e Cisjordânia, dando autonomia aos palestinos, mas mantém encraves. O prazo é adiado devido a impasses sobre Jerusalém, o retorno de refugiados palestinos, os assentamentos judaicos e atentados terroristas palestinos.

1998 - Processo de paz
Após acordos de paz entre israelenses e palestinos, como o de Oslo (93) e o de Wye Plantation (98), Israel entregou porções de terra aos palestinos.

2000 - Camp David
Em julho de 2000, em Camp David (EUA), Israel ofereceu soberania aos palestinos em certas áreas de Jerusalém Oriental e a retirada de quase todas as áreas ocupadas, mas Iasser Arafat [morto 11 de novembro de 2004, após ficar internado durante 14 dias em um hospital militar na França] exigiu soberania plena nos locais sagrados de Jerusalém e a volta dos refugiados. Israel recusou.
2000 - Segunda Intifada
O segundo levante popular palestino contra Israel que teve início em setembro de 2000 ficou conhecido como segunda Intifada, e começou quando o então premiê de Israel, Ariel Sharon, visitou a Esplanada das Mesquitas, local mais sagrado de Jerusalém para palestinos e judeus (que o chamam de Monte do Templo).
2002 - Muro de proteção
Israel começa a erguer uma barreira para se separar das áreas palestinas com o objetivo de impedir a entrada de terroristas. Palestinos afirmam que a construção do muro é uma anexação de território. A construção inclui série de muros de concreto, trincheiras fundas e cercas duplas equipadas com sensores eletrônicos
2002 - Quarteto
Em outubro de 2002, um enviado dos EUA apresenta pela primeira vez um esboço do plano de paz internacional elaborado pelo Quarteto [EUA, Rússia, União Européia e ONU]. O novo plano segue as linhas traçadas pelo presidente dos EUA, George W. Bush. Prevê o fim da violência, seguido por reformas políticas e nos serviços de segurança palestinos e a retirada de Israel de territórios ocupados.
Forças israelenses cercam Arafat na Muqata (QG do líder) em meio a uma ampla ofensiva lançada após uma onda de ataques terroristas em Israel. Arafat fica proibido por Israel de deixar a Muqata. Fica confinado até antes de sua morte, em novembro de 2004.
2003 - Plano de Paz Internacional
O plano é oficializado em 2003. Seu texto propõe um cessar-fogo bilateral, a retirada israelense das cidades palestinas e a criação de um Estado palestino provisório em partes da Cisjordânia e da faixa de Gaza. Em uma última fase, seria negociado o futuro de Jerusalém, os assentamentos judaicos, o destino dos refugiados palestinos e as fronteiras. Não é mencionado no texto a exigência do governo israelense de que o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, morto em 11 de novembro último, seja removido do cargo. Apenas diz que os palestinos precisam de uma liderança que atue duramente contra o terror.
2003 - Mahmoud Abbas
Em maio, assume o cargo de premiê palestino o moderado Mahmoud Abbas, indicado por Iasser Arafat após ampla pressão internacional.
Abbas renuncia cerca de quatro meses depois após divergências com Arafat em relação ao controle da segurança palestina.
2004 - Morte de Arafat
Em novembro, morre o líder da Organização pela Libertação da Palestina, Yasser Arafat.
2005 - Eleição
Em janeiro, Mahmoud Abbas vence as eleições e se torna o novo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Um ano depois, a frustração com seu partido, o Fatah, acusado de corrupção, colabora para a vitória do movimento rival Hamas nas eleições parlamentares palestinas, levando o islâmico Ismail Haniyeh ao posto de premiê.
A vitória do Hamas levou a comunidade internacional --liderada pelos EUA e por Israel-- a empreenderem um boicote financeiro à ANP, detonando crises internas e episódios de violência.
2005 - Plano de retirada
Lançado pelo premiê israelense, o plano unilateral de Sharon --que alega ter tomado essa iniciativa por não contar com interlocutores confiáveis no lado palestino-- visa retirar de Gaza e parte da Cisjordânia 25 assentamentos judaicos e suas forças militares. Convivem hoje no território 1,3 milhão de palestinos e cerca de 8.500 judeus. Facções contrárias à retirada adotam o discurso de não desistir de nenhum centímetro de terra.
2006 - Afastamento de Sharon
Em janeiro, o então premiê israelense Ariel Sharon sofre um derrame cerebral e entra em coma. Ele é substituído interinamente pelo atual premiê, Ehud Olmert. Em março, eleições israelenses dão a vitória ao partido Kadima (centro), de Olmert, e após formar uma coalizão o líder é confirmado no posto de premiê israelense.
2007 - Governo de coalizão palestino
Após meses de negociações, os partidos palestinos rivais Fatah (do presidente da ANP, Mahmoud Abbas) e Hamas (do premiê palestino, Ismail Haniyeh) concordam com a criação de um novo gabinete com poder compartilhado. O acordo foi fechado em Meca (Arábia Saudita) em uma reunião com Abbas, Haniyeh e o líder político do Hamas na Síria, Khaled Meshaal, no dia 8 de fevereiro.
A negociação foi marcada pela violência interna que custou a vida de dezenas de palestinos entre dezembro e fevereiro.

Apesar da comunidade internacional --incluindo Israel-- ter pressionado pela realização do acordo entre os dois movimentos, Israel não tem a intenção de tratar com o novo governo palestino.

O Hamas continua a não aceitar de forma direta ou indireta o reconhecimento de Israel, os acordos firmados e a renúncia à violência, informou um comunicado do Ministério de Relações Exteriores de Israel. Esses três pontos são as exigências da comunidade internacional para o fim do bloqueio financeiro à ANP.
2008 - Intervenção dos EUA
Em janeiro, representantes de Israel e da ANP reúnem-se para recomeçar as negociações sobre o futuro de Jerusalém, os assentamentos, os refugiados palestinos, as fronteiras, a segurança e os recursos hídricos. É a primeira vez que os assuntos são tratados desde Cúpula de Taba, em janeiro de 2001.
As conversas de paz, como muitas tentativas anteriores, não amenizam o clima de guerra entre palestinos e israelenses e os jornais noticiam freqüentemente ataques violentos das duas partes.

Em 13 de março, o Jihad Islâmico (grupo extremista palestino) em Gaza disparar mais de uma dúzia de foguetes contra o sul de Israel após forças secretas israelenses terem matado um de seus líderes em um ataque ocorrido na véspera na Cisjordânia. No dia seguinte, um enviado especial dos Estados Unidos chega ao país para tentar mediar conversações de paz, mas Israel nega cessar-fogo.
Em abril, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, reitera no Egito seu desejo de que o conflito palestino-israelense seja resolvido antes do final deste ano. "Pedimos a todas as partes (envolvidas no processo de paz) que empreguem o esforço máximo para alcançar um acordo antes do final do ano. Queremos conseguir uma solução antes do fim de 2008", afirmou à época.

Além disso, pediu ao presidente americano, George W. Bush, "que trabalhe para que (Israel) cesse a construção de assentamentos judaicos, com o objetivo de chegar a um tratado que garanta a recuperação das fronteiras anteriores a 1967."
Poucos dias depois, ele se reúne com o primeiro-ministro, Ehud Olmert, para discutir detalhes da visita de Abbas aos Estados Unidos e do presidente George W. Bush a Israel. A idéia seria encerrar o conflito que opõe os povos antes do fim do mandato de Bush, em janeiro de 2009. Egito assume controle de Gaza, e Jordânia, da Cisjordânia. População dos territórios incha com os campos de refugiados palestinos.
Nenhum dos dois lados cumpre estritamente qualquer acordo.
Enfim, esse é o retrato da guerra nascida sem fim. Nascida com falta de diplomacia e intolerância em todas as esferas. Nascida de erros remedados e de interesses nada passionais de quem pode se aproveitar. E continuará se aproveitando enquanto puder.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Comentário não é diretamente sobre o texto, mas sim sobre quem o escreveu.

ORGULHO e ADMIRAÇÃO é só o que sinto.