sábado, 22 de novembro de 2008

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

O Congresso Nacional aprovou em 2003, através de uma lei federal o Dia Nacional da Consciência Negra. A data, 20 de Novembro, aniversário da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi definida para manter viva a memória e sua importância como símbolo da resistência contra a escravidão. Representa a luta para o combate ao preconceito racial no Brasil. [1]

Preconceito racial é um conceito muito temerário de ser discutido se partirmos do princípio da não existência de raças, além da humana. Ainda mais temerário é minimizar um país com tanta diversidade a 2 cores: brancos e negros.

O Brasil é preconceituoso sim, mas o é massiçamente contra pobre, independente da cor de sua pele. A questão é que historicamente, em virtude do vergonhoso período de escravidão que imperou nesse país, as oportunidades destinadas aos negros e seus descendentes foram limitadas por uma Abolição covarde. "Treze de maio: traição, liberdade sem asas e fome sem pão" – diz o poeta gaucho Oliveira Silveira [2]. Os negros libertados em 1888, precisaram aprender a sobreviver, sem instrução ou preparo para isso. Nesse cenário, era presumível que o filho do fazendeiro continuasse se formando doutor e o filho, do agora ex-escravo, raramente conseguisse ser alfabetizado. Criou-se um abismo social quase intransponível. É esse abismo social o maior problema do Brasil.

Há 10 anos, tramita no Congresso o Estatuto da Igualdade Social. No centro das discussões, temos o sistema de cotas para negros no ingresso ao Ensino Superior. É um erro imaginar que provoque alguma justiça. Não é o negro quem não tem acesso a Universidade. Todos têm. O processo é aberto a todos e ninguém é impedido de entrar por cor de pele. Quem não tem acesso a Universidade são os pobres, que sem educação de base e tendo que trabalhar cada vez mais cedo, muitas vezes em subempregos, não conseguem aprovação no processo seletivo de conhecimento.
Sim, é verdade que em média os negros (2 salários mínimos) ganham metade do salário de um branco que o branco (3,8 salários mínimos). Não por racismo. Os números normalmente divulgados, se concentram nas estatísticas que contemplam negros, pardos e brancos. Os números relativos aos classificados como amarelos, raramente vem a tona. Se viessem perceberíamos que os amarelos ganham o dobro dos brancos (7,4 salários mínimos). Se os negros ganham menos porque são oprimidos pelos brancos, o mesmo raciocínio validaria a tese de que, no Brasil, os amarelos oprimem os brancos.
O racismo não explica essa disparidade. A explicação é a oportunidade. São as condições economicas e sociais. Os amarelos estudam em média 10,7 anos, os brancos 8,4 e os negros 6,4 anos. Maior o tempo de estudo, maior o salário.

Hoje li muitas reportagens onde se apontava o quanto os negros e pardos, considerados 49,5% da população e caminhando para se tornarem maioria absoluta, são pouco representados nas Câmaras, Assembléias e Congresso Nacional. Alegavam que a eleição de Barack Obama como Presidente dos EUA, deveria servir para conscientização da população brasileira para que passem a eleger mais e mais representantes negros. Afirmavam ainda que já significava um avanço o fato da nomeação de nomes como o de Joaquim Barbosa para o STF e de Benedito Gonçalves, primeiro ministro negro do STJ.

É de fato um marco importantíssimo ver a eleição de um negro na maior potência econômica do mundo. Mas é tolice imaginar que alguém formado em Ciência Políticas com especialização em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia em Nova York e Direito em Harvard, Senador da República com vasta experiência social, tenha sido eleito pelo fato de ser negro [3]. Foi eleito porque reuniu qualidades que fizeram com que maior parte dos Estados, acreditasse que ele estivesse preparado.

O Brasil não possui poucos representantes políticos negros. Possui poucos representantes dos que não tiveram OPORTUNIDADE. Quando falta o básico, não se entende o que é e a importância da política, ainda que se a pratique todos os dias.

Ainda temos os vergonhosos crimes de intolerância espalhados pelo país, sim. Intolerância contra negros, índios, homossexuais, judeus, minorias. É preciso a criação de Leis mais severas e uma Justiça mais ágil e com fácil acesso a todos. Mas é preciso conscientização. É preciso educação básica. A mesma Lei que decreta o Dia da Nacional da Consciência Negra, também tornou obrigatório nas escolas o estudo sobre história e cultura afro-brasileira. A Lei 11.645/08 trata de questões indígenas. A idéia é ensinar aos alunos de todo o país a história dos povos africanos e indígenas, a sua luta e a influência na formação da sociedade nacional, contrapondo a doutrina predominantemente européia em nossos livros de história.

Já que o dia é de Consciencia, cabe a nós verificarmos na escola do bairro mais próxima, onde nossos filhos estudam, se essa lei está sendo posta em prática e se temos professores capacitados para isso. Quanto mais formos capazes de formar cidadãos de fato, cientes da participação e importância de cada etnia em nossa cultura, mais caminharemos para uma sociedade igualitária e com oportunidade, independente de classe, sexo, cor ou credo. Uma sociedade em que o dia 20 de Novembro seja só de comemorações, para todos.
Fontes: "Não Somos Racistas" - Ali Kamel - Ed Nova Fronteira

Um comentário:

Cecilia disse...

...tudo que eu sempre quis dizer, só que de um jeito muito mais educado (!).
SIM à transformação sócio-cultural, pois é ela determina o restante das transformações. Sem mudar como se pensa, não se muda como se age.