terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MADOFF, EGO E O VIGÁRIO.

Já descobri uma coisa sobre Blog. Não tenho a menor disciplina para ele. Nem tempo. Pensar em escrever com alguma periodicidade é utopia. Sendo assim, volto após quase um mês, com um monte de assuntos acumulados que pretendo colocar em dia na próxima semana.

Na última 5ª feira, dia 11/12/08, Bernard Madoff, aos 70 anos, foi preso nos EUA sob a acusação de liderar um esquema de fraude no Mercado Financeiro. A fraude usava o Sistema Ponzi, ou Pirâmide. Consistia basicamente em formar uma pirâmide atraindo investidores através da promessa de altos ganhos e que acabam sendo remunerados com o investimento de pessoas atraídas posteriormente.

Segunda-feira as autoridades americanas anunciaram a liquidação dos fundos e não deram esperanças aos investidores quanto a recuperação do dinheiro. No total estima-se um prejuízo em torno de US$ 50 bilhões, envolvendo Pessoas Físicas, Bancos, Empresas e até Entidades Filantrópicas.

Só entre os Bancos Europeus, o prejuízo pode chegar a US$ 12,5 bilhões. O 2º maior banco europeu em capitação, já anunciou um prejuízo estimado a seus clientes em torno de US$ 3,11 bilhões.

Bernard Madoff começou sua carreira aos 22 anos com algo em torno de US$ 5 mil, conquistados em trabalhos durante um verão. Fundou assim, em 1960, uma empresa Bernard L. Madoff Investiment Securities. Além disso, ele dirigia uma empresa de assessoria financeira em separado e era nessa empresa em que ocorria a suposta fraude. O segredo para enganar tanta gente? Uma reputação acima de qualquer suspeita. Madoff foi Presidente da Nasdac, além de diversas diretorias e extremamente generoso nas causas beneficentes. Era um homem descrito como “de alto nível, mas de uma forma discreta”.

O esquema funcionou porque, em 1º lugar, o mercado americano permitiu (e esse assunto eu deixo pra depois), depois porque o ser humano tem o ego maior que a razão, quase que por definição. Se isso ainda envolver dinheiro... Os clientes mais ricos de Madoff foram conquistados em núcleos abastados de Nova York e da Florida. Essas pessoas foram seduzidas pela idéia de pertencerem a um grupo seleto com ganhos fantásticos. Quando a sedução entra em ação, qualquer razão sucumbe. Essas pessoas passaram a acreditar que redescobriram a América o que fez com que essa piramide fosse construída praticamente no boca a boca. Com a crise americana, as pessoas precisaram resgatar esse dinheiro. Foi quando descobriram que o dinheiro simplesmente não existia.

2007 – Polícia prende quadrilha em Santa Catarina suspeitos de vender bilhetes de loteria falsos para idosos – Prejuízo em torno de R$ 1 milhão.

2006 – Polícia Federal prende quadrilha que aplicava golpe do bilhete premiado no interior de Minas e São Paulo que agia desde 2001 – Prejuízo em torno de R$ 3 milhões.

2005, 2004, 2003... O golpe do Bilhete Premiado é fundamentalmente praticado contra idosos. Mais uma das variações do “Conto do Vigário”, assim como o de Madoff. E não me venha dizer que enganar velhinhos inocentes é pecado. Inocentes aonde?

Falei com uma vitima em certa ocasião. Com os olhos cheios d'água, disse que encontrou uma moça muito simples na casa lotérica tentando conferir o resultado do bilhete. Analfabeta a pobre, estava visivelmente com dificuldades e pediu ajuda a essa pessoa. Conferido o bilhete viu que estava premiado. Confirmou com o dono da lotérica. Bingo! Explicou pra moça quantos milhões ela havia ganho no que ouviu a resposta: “Nossa, dona! Nem sei quanto dinheiro dá isso. O que eu queria mesmo era voltar pra minha cidade, pra minha gente. Meu filho tá muito doente, sabe? Estava voltando pra lá amanhã mesmo. Se eu tivesse o dinheiro da passagem e pra comprar um barraquinho por lá pro meu bacuri, seria a mulher mais feliz do mundo”...

Você deve estar se perguntando, como eu me perguntei, como alguém cai numa história dessas? Esqueça meu amigo. Quando a sedução está no ar, não há razão que resista, lembra-se. E essa vítima estava completamente entorpecida. Então veio o golpe de misericórdia: “Será que voiz micê num qué fica com o bilhete? Não preciso de toda essa dinherama não. Só quero voltar pra minha terra. Ocê me ajuda a voltar e eu deixo o bilhete cocê.”

Duas horas, 10 mil dolares e algumas jóias mais pobre, nossa vítima descobriu que o bilhete era falso.

Vítima?

Tanto aqui, quanto no caso Madoff, as pessoas foram enganadas pela própria ganância. Mágica não existe. Os truques sempre foram e continuarão a ser praticados com complexidade diretamente proporcional ao dinheiro que o seu “público” tem pra pagar.

“O mal do malandro é achar que todo mané é otário”

Um comentário:

Anônimo disse...

Neste mundo de amigos virtuais, anjos de guarda virtuais, discussões de familia virtuais, porque o dinheiro também não seria virtual? Talvez seja por isto que a natureza resolveu se revoltar para mostrar ao mundo que ela não é virtual e por nossa cabecinha para pensar...
Ju.. adorei seu artigo e ref a cair em no conto do vigário, nem te conto que ja cai também, isto pq trabalho no setor de prevenção a fraudes... AFFF