domingo, 9 de agosto de 2009

AMAR NÃO DÓI

Já passei dos 30. Estudei a maior parte da minha vida. Trabalhei mais do que achei que agüentaria. Viajei muito menos do que seria necessário pra manter o mínimo de sanidade. Ganhei e perdi em muitos aspectos. Das perdas irreparáveis, aprendi sobre saudade. De todas as outras aprendi sobre o efêmero. Aprendi o mesmo sobre os ganhos. E fundamentalmente que não perco ou ganho nada. Tudo o que vem, talha o que sou. E não “vai embora”. Apenas continua a rota em que estava quando encontrou comigo. Não é meu. Está em mim. Tenho a sensação que estou permanentemente prestes a estréias. Traço rotas irremediavelmente diferentes e as tiro pra dançar pelo menos por um momento da trajetória. Flerto com todas elas. Indefinível o que me faz ficar. Amo incondicionalmente e sei que não é dele que depende minha felicidade. Sei que amar não traz dor. Nunca traz.


O fim de uma relação não significa o fim do amor. Significa apenas que os motivos que levaram aquelas pessoas a trilharem caminhos paralelos por um período, se dissipou. O amor fica. A convivência é o que vai embora. E é na convivência que entendi que o ato de se relacionar com alguém é um exercício eterno de concessão e exigência. As partes precisam ceder sem sobreposição. No fim, o que dói é o fato de alguém definir que o acordo firmado entre partes está rompido e que todo o empenho ofertado falsamente ao outro foi em vão. Falsamente porque quando concedemos ou exigimos, fazemos para nossa felicidade. Não do outro. Ninguém rompe esse contrato por falta de amor. Exceto nos casos em que ele nunca tenha existido de fato.
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Se esse relacionamento nunca existiu, ainda assim, o amor permanece sublime. O que dói é a expectativa frustrada. É a projeção não realizada. É perceber, seja lá o motivo, que aquelas vidas não podem caminhar paralelas no momento em que pra alguém se faz tão urgente. É passional. E por isso mesmo intenso, beirando o insuportável. Mas o amor, se amor, estará lá intacto.
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Se aprendi alguma coisa até aqui que me guiará pelo que virá é que ninguém dá o que não tem. Não há crueldade nisso. Ninguém pode nos dar felicidade porque em ninguém ela estará. Vira cobrança inutil. Expectativa frustrada. Quanto mais frustrada, mais cobrança.
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A felicidade é artigo individual e perecível. Não se é feliz pelo outro. No máximo alegre. Não se é feliz pra sempre, pelos mesmos motivos, na mesma intensidade. A felicidade é apenas potencializada entre duas pessoas que sejam plenas por si só. Que não desistam de sua busca. Que não duvidem da sua fé. Que saibam que a chama precisa de combustível pra permanecer acesa. E que acima de tudo entendam que a vida é simples demais pra qualquer estratégia, pra qualquer roteiro. Que aprendam do amor, todos os dias, amando. Individualmente juntos.
"...Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor."
"Amor Antigo" - Drummond

2 comentários:

carolina disse...

Texto intenso. Consegui imaginar você ao vivo falando sobre isso, aliás, até consegui remetir a nossa conversa naquele agradável e lindo restaurante! Te amo!

Tania C.Toffoli disse...

Sou sua fã, sabia?